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Sept. 6, 2017, 11:10 a.m.
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Sites sem fins de lucro criam conteúdo para elite que já lê muita notícia?

O modelo sem fins lucrativos tem benefícios óbvios –como a habilidade de publicar reportagens importantes que as forças de mercado são apoiariam de outra maneira. Mas também levanta novas questões e pressões.

Quando o professor da New York University Rodney Benson começou a estudar os tipos de propriedades de empresas de mídia, ele ficou impressionado com o único estilo norte-americano de veículos jornalísticos sem fins lucrativos. No entanto, à medida que começou a entrevistar pessoas que trabalhavam nesses empreendimentos, descobriu outra coisa que lhe pareceu estranha.

“Fiquei impressionado com a orientação pelo mercado”, disse ele, relembrando-se de uma visita ao Christian Science Monitor. “Eles não tinham a pressão para maximizar o retorno, não tinham as mesmas pressões que há em veículos comerciais, e ainda assim não pareciam tão diferentes da mídia comercial”.

Na semana passada, o Guardian e o NY Times lançaram braços filantrópicos que tentarão arrecadar dinheiro para financiar notícias sobre tópicos específicos. Vários veículos foram lançados nos últimos 10 ou 15 anos na categoria dos “sem fins lucrativos” (Texas Tribune, ProPublica, MinnPost, Marshall Project) ou decidiram se tornar não comerciais (Honolulu Civil Beat, Tulsa Frontier). Todos os textos que escrevemos sobre empreitadas sem fins lucrativos deixam claro que esses sites lidam com as mesmas pressões que os demais. Eles estão tentando construir audiências educadas e aumentar a receita com assinaturas. Preocupam-se com o tráfego. Estabelecem parcerias com veículos comerciais para certas notícias.

O modelo sem fins lucrativos tem benefícios óbvios –como a habilidade de publicar reportagens importantes que as forças de mercado são apoiariam de outra maneira. Mas também levanta novas questões e pressões.

“É um paradoxo”, disse Benson, que é o chefe de departamento e professor de Mídia, Cultura e Comunicação da NYU. “As fundações estão pedindo que a mídia não comercial seja [financeiramente] sustentável para ter um impacto. Essas duas coisas não se juntam facilmente”.

Em um novo artigo, “Podem as fundações resolver a crise do jornalismo?“, Benson analisa o papel de veículos sem fins lucrativos e que são apoiadas por fundações nos EUA hoje, explorando os benefícios e as deficiências do modelo. (O artigo completo pode ser lido aqui. Foi financiado em parte com uma doação da Ax:Son Johnson Foundation, da Suécia –sem compromissos, especificou a NYU). Falei com ele sobre suas descobertas. Nossa conversa, condensada pelo tamanho e clareza, está abaixo.

Laura Hazard Owen: O que despertou o seu interesse neste tópico?

Rodney Benson: Isto é parte de 1 estudo maior sobre propriedades da mídia que venho fazendo nos últimos anos com alguns colegas suecos e franceses. Fui pensando que mídia sem fins lucrativos era algo realmente distinto do cenário da mídia norte-americana, mas isso era no contexto de pensar sobre a variedade de tipos de propriedade de mídia –sem fins lucrativos, com ações negociadas no mercado, privadas e mídia pública.

Mas quando eu estava entrevistando pessoas do mundo das fundações e no Christian Science Monitor, fiquei impressionado com a orientação pelo mercado. Eles não tinham a pressão para maximizar o retorno, não tinham as mesmas pressões que se tem em veículos comerciais e ainda assim não pareciam tão diferentes da mídia comercial. Foi isso que me motivou.

Owen: O que você quer dizer quando afirma que foram orientadas pelo mercado?

Benson: Estavam usando o Chartbeat e outros tipos de medidores de audiência. No Monitor, queriam reduzir subsídios vindos da igreja e descobrir maneiras de conseguir mais dinheiro de audiências e publicidade. Mas, para mim, parecia que o que fez o Monitor ser único era exatamente que eles não precisavam se preocupar com coisas do tipo.

Também fiquei surpreso com a maneira que várias pessoas nesse mundo de fundações falavam sobre [financiar veículos não comerciais]: Eles não estavam nisso pelo longo prazo e sim apenas para ajudar o jornal a fazer sua transição para o mercado.

Pareciam ignorar os problemas que nos trouxeram a esse ponto em 1º lugar. Se o mercado está provendo esses tipos de notícias, nós não precisaríamos de veículos não comerciais. Eu acredito que esses dilemas são fascinantes.

Owen: Você estudou a composição de chefias de veículos comerciais, fundações e não comerciais. Você descobriu que “elites financeiras dominavam todos os 3 tipos de organizações” e que várias delas têm diplomas de universidades de prestígio. Como isso muda o conteúdo que será produzido? E se –como você escreveu– “suporte filantrópico reforça e estende a orientação de classe média-alta, pro-corporação no jornalismo norte-americano de massa”, o que se perde?

Benson:Eu acredito que vários dos veículos que são financiados por fundações entregam notícias de qualidade a um público que já está recebendo muitas notícias de qualidade. Isso não é uma coisa ruim, mas eu não acredito que eles estão abordando o problema da maior falta de conhecimento público na população.

O lema de várias das mídias financiadas, apesar de não terem essas pressões empresariais, parece ser fornecer notícias de qualidade para públicos de qualidade, no sentido da demografia do público de alta renda e alta qualidade de ensino. Isso é sentido quando elas começam com as fundações: esse mantra que eles têm que ser sustentáveis. E como você pode ser sustentável? Você deve encontrar um nicho, grandes ou pequenos doadores que pagarão ou patrocinadores corporativos. Eu penso que isso compromete sua capacidade de atingir um público maior.

É um paradoxo. As fundações estão pedindo que a mídia não comercial seja [financeiramente] sustentável e tenham um impacto. Essas duas coisas não se juntam facilmente. Como se produz um impacto? Muitas vezes, essas organizações criam parcerias com mídias comerciais. Normalmente, elas apenas dão isso porque mídias comerciais são pagarão por isso. Isso permite que elas alcancem um público maior, mas também as vincula ao sistema de mídia comercial maior pois elas têm de produzir conteúdo com o qual a mídia comercial se encaixa.

Pede-se delas que sejam sustentáveis. Para que sejam sustentáveis, elas têm de se libertar do financiamento de fundações, porque estas dizem que não estão nele a longo prazo.

Outras fontes de renda estão pagando audiências, assinaturas, patrocínios corporativos e publicidade. Então, estão realmente visando o que eles publicam para esse público de alta renda e alta qualidade educacional, o que as torna praticamente indistinguíveis do das mídias comerciais de nicho. Eu sinto que o potencial para organizações sem fins lucrativos de oferecer uma alternativa radical à mídia comercial está sendo perdido.

Owen: Você tem algum exemplo de um veículo não comercial que você acredita que está fazendo um bom trabalho ao fornecer a alternativa radical?

Benson: Um bom exemplo que eu sempre dou é o San Francisco Public Press, que foi lançado com o objetivo de ser o “Wall Street Journal para os trabalhadores”. Tem sido um provedor de reportagens investigativas de qualidade e profundas, mas também descobriu uma maneira de distribuir esse conteúdo para vizinhanças de baixa renda. Uma das maneiras que eles usam para tentar atingir uma audiência maior é continuar a impressão do jornal, até porque muitos dos pobres e da classe trabalhadora não têm acesso à internet.

Não existem muitos veículos não comerciais que estão tentando fazer isto. Mais típico é algo como o MinnPost, que foi muito explícito sobre o fato de que não se trata de maximizar sua audiência, mas de atingir esse público de elite.

Owen: Você escreveu sobre a fragilidade de transmissões de notícias públicas nos EUA. O quão diferente você acredita que as descobertas em seu artigo seriam se tivéssemos mais dinheiro entrando para o mercado de TV pública aqui? Você acredita que a nossa falta de fortes sistemas de transmissões públicas tem contribuído para o crescimento de veículos sem fins lucrativos?

Benson: A quantidade de financiamentos que recebemos para a CPB, PBS e NPR é realmente minúscula quando comparada ao financiamento de todos os países da Europa Ocidental –pouco mais de US$ 3 per capita comparado a US$ 100 no Reino Unido, US$ 135 na Alemanha e US$ 177 na Noruega. Até mesmo quando são incluídas fundações e doadores individuais, o financiamento total para a mídia pública neste país é menos que US$ 9 per capita.

Mídia pública na Europa não é a mídia de nicho. Se você olha para SVT na Suécia, ou ARD na Alemanha, eles estão atingindo de 30 a 40% da população, com grandes audiências em várias plataformas públicas. Há uma grande diferença entre os EUA e a Europa Ocidental em termos da difusão de conhecimento público.

Eu não acredito que a mídia não comercial é mais desenvolvida nos EUA que em outros lugares. Eu acredito que há uma sensação de que a mídia comercial não está fornecendo tudo que precisamos e o caminho para fortalecer nossa mídia pública tem sido bloqueado, então tem toda esta energia que está indo para o setor não comercial. Não vamos nos enganar: Não é o suficiente. É um bom suplemento, mas não é suficiente para lidar com a falha do mercado.

Owen: Seu artigo olha para certos problemas com o financiamento de fundações em geral. Citarei uma parte aqui:

Suporte de fundações para uma “multiplicidade de organizações que se sobrepõe e competem entre si garante que protestos permanecerão fragmentados”. De acordo com [a socióloga Joan Roelofs], o “alvo” de fundações é “apoiar formas de ativismo que não são seriamente desafiantes para a estrutura do poder”. Tudo está na mesa como um potencial “causador de problemas” –”participação inadequada, governo irresponsivo, escolas inadequadas, treino de lideranças políticas inimaginativas”, etc– exceto as “instituições capitalistas”. O resultado é um “movimento de massa” de “burocracias não-ideológicas fragmentadas, segmentadas, locais que estão fazendo bons trabalhos, e acima de tudo, dependentes do apoio de fundações”…

Qualquer exame de financiamentos por fundações para a mídia recente –notavelmente para veículos comerciais e não comerciais– apresenta apoios generosos e críticos para o setor. Diversidade, especialmente étnico-racial e linguística, permanece como um foco especial, em meio a esforços para encorajar reportagens profundas sobre pobreza, desigualdade, saúde, meio ambiente e desenvolvimento global. A linguagem de concessões, no entanto, é sempre temperada e pára de ser uma crítica sistêmica.

Ao conversar com as pessoas nas fundações, você tem a sensação de que estão cientes ou preocupadas com isso?

Benson: Eu não acredito que isso esteja em mente. Eu espero que esta pesquisa possa colocar essa questão na agenda.

Não sei se é uma intenção consciente das pessoas no mundo das fundações, mas acredito que existem esses efeitos estruturais. Tenho certeza que eles recebem tantos pedidos de financiamento, e sua esperança é gerar sementes em toda parte e esperar que algo floresça. Mas acredito que o efeito estrutural disso é, de fato, não construir o impulso que você precisaria realmente abordar completamente qualquer um desses problemas. Existe um tipo de incentivo estrutural para que as fundações não financiem reformas estruturais realmente radicais ou realmente se atrasem em uma transformação mais ampla do sistema capitalista. Elas procuram por consertos de políticas que, de certa maneira, levem esse status quo maior como um dado, e olha maneiras de fazer com que o sistema dado funcione melhor que o que está funcionando agora.

Owen: Na semana passada, vimos o NY Times e o Guardian lançarem braços filantrópicos que buscarão financiamento de fundações para cobrir certos assuntos. O que você pensa de iniciativas desse tipo?

Benson: Acredito que pode ser uma coisa boa. Por que não tentar e descobrir maneiras de apoiar jornalismo de qualidade? Vimos isso antes. O Huffington Post tem uma ala não comercial, e as fundações têm há algum tempo dado dinheiro para mídias comerciais. A Fundação Ford e outros têm dado dinheiro para o LA Times. Neste caso, eu acredito que seja mais perturbador, pois o LA Times é parte de uma companhia que vem cortando massivamente a qualidade do jornalismo nos veículos que possui, então de certa maneira, este financiamento de fundações os ajuda a continuar nesta estratégia maior até mesmo quando se permite que seja feito algum trabalho de qualidade. Não se desafia a lógica por trás destes veículos comerciais. O NY Times e o Guardian já estão funcionando de uma maneira que se isolam de pressões do mercado e que os move mais em uma lógica pela qual já estão se movendo. Mas acredito que o maior problema permanece: Elas usarão esse apoio de fundações para descobrir maneiras de crescer para novas audiências e para audiências que já não estão recebendo notícias de alta qualidade? Acredito que esta é uma das grandes questões.

Owen: Na conclusão do seu artigo, você escreveu:

Veículos não comerciais apoiados por fundações estão profundamente incorporados no sistema de produção e circulação de notícias nos EUA, no qual a maioria do público recebe um menu de informação e entretenimento, além de conteúdo patrocinado, enquanto um pequeno setor de notícias críticas e detalhadas permanecem largamente dentro de províncias das elites com alto teor de capital cultural. Enquanto esse tipo de notícias de elite pode gerar um poderoso efeito de formação de agenda no passado, o panorama da fragmentada e polarizada mídia norte-americana faz com que seja mais provável que notícias de qualidade sejam de fato consumidas por audiências “de qualidade”. Isso é uma perda tanto para a elite, que pode não ser adequadamente informada sobre questões que preocupam públicos que não são da elite, e para cidadãos mais jovens e menos educados que se beneficiariam de reportagens mais profissionais e detalhadas e menos extremistas e partidárias, sejam elas “falsas” ou não.

Como você acredita que poderíamos melhorar o sistema?

Benson: Um dos problemas que eu identifico é o jeito com o qual as fundações estão avançando em direção a projetos baseados em financiamentos de longo prazo. Se o próprio mundo das fundações perceber a importâncias de financiamentos de longo prazo, isso seria, eu acredito, um progresso.

Também, desenvolver um código de conduta para fundações e grandes doações, para que fique claro que não estão tentando interferir no trabalho que apoiam.

Outra ideia são redes de menores doadores para apoiar a mídia. Se existe uma maneira de proteger parte da energia que vai para apoiar campanhas políticas, poderia se proteger em nome de mídias não comerciais que alcançariam uma larga audiência?

E finalmente, apesar de não funcionar neste momento nos EUA, renovar esforços para aumentar o financiamento público –uma forma de financiamento que recolhe de toda a população e oferta incentivos para que veículos entreguem um conteúdo que atinja um público maior. Muitos dos problemas que a mídia pública dos EUA enfrenta vem de sua confiança em doadores com alta renda e patrocínios corporativos. Isso manteve a audiência pequena. Eu continuo batendo na mesma tecla, mas é uma questão-chave.

Eu entrevistei alguém em uma fundação que disse: Olha, realmente, as fundações não são uma boa maneira de se distribuir bens públicos baratos. O dinheiro que poderia ter entrado nos cofres públicos está indo para o mundo das fundações, e os funcionários das fundações não têm responsabilidade sobre como eles gastam este dinheiro. Muitas pessoas que trabalham em fundações são muito conscientes, mas têm um tremendo poder e se há pouca vigilância sobre isso. Há muita pouca apuração sobre o mundo filantrópico; não há muito jornalistas especialistas no assunto. Ainda assim, o setor está crescendo; seu poder e alcance estão crescendo. Tratamos isso como se isso fosse um tipo de bem perfeito, mas é mais complexo do que isso.

The Portuguese version of this story was first published in Poder360. Translation by Renata Gomes.

Laura Hazard Owen is the editor of Nieman Lab. You can reach her via email (laura_owen@harvard.edu) or Twitter DM (@laurahazardowen).
POSTED     Sept. 6, 2017, 11:10 a.m.
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